segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: uma porta para a leitura.

Autoria[1]:
Aurélio Muniz de Souza Filho
Laís do Nascimento Morais
Lucas Gomes Magalhães Leiros




Expomos um recorte do projeto extensionista Lá Li Gibi, vinculado ao Programa de Bolsas de Extensão (PROBEX) 2014. Este projeto leva para frequentadores da praia da Penha, em João Pessoa, aos domingos, quinzenalmente, um acervo de histórias em quadrinhos (HQs), com o objetivo de estimular o desenvolvimento do hábito da leitura.
As cores e imagens das HQs se associam a uma situação de lazer e nos desafia a oferecer oportunidades de leitura. A partir desta experiência, nos vimos diante de divergência teórica acerca do caráter literário das HQs. Daí inquirirmos: se as HQs não são um gênero literário, o que são afinal?
Sobre tal questão concordamos com Lovetro [s.d.] quando indica que as HQs possuem uma linguagem multissemiótica, que expressa um contraponto entre imagem e palavra.
Observamos posicionamentos teóricos acerca das HQs, que as abordam como um gênero literário inferior. Entretanto, as HQs merecem destaque muito mais por constituírem uma literatura que aproxima pessoas do universo da leitura e da imaginação que propriamente de cunho classificatório. Pomo-nos de acordo com Rosas (2014), ao não acatar concepções preconceituosas com relação às HQs. Ademais, no nosso entendimento, estas são um gênero textual que possui linguagem acessível e de grande aceitação popular, facilitando a aproximação entre o não leitor e o texto.
Assim nos posicionamos por entender que o processo de leitura não se resume à mera decodificação de símbolos gráficos, e inclui todo o contexto, a bagagem e a interpretação do leitor, como afirma ZIBERMAN (1987). Desse modo, consideramos que o fato de uma pessoa ser alfabetizada, apesar do inconteste caráter civilizatório aí embutido, não torna alguém um leitor.
Há, inclusive, que se ponderar a respeito de histórias em quadrinhos contadas sem que haja palavra escrita, apesar de nelas existirem história, interpretação e leitura. Mais que decodificar o texto escrito é preciso disponibilizar ferramentas sem as quais a compreensão do real não se faz aguda. E a leitura é, sem dúvida, ferramenta privilegiada para tal propósito.
O reconhecimento de que as histórias em quadrinhos constituem um gênero textual que favorece o desenvolvimento do hábito da leitura, nos conduziu à organização da ação extensionista Lá Li Gibi em três momentos: I – leitura de histórias em quadrinhos, pela disponibilização de acervo com aproximadamente 600 revistas; II – sessões de contação de histórias escolhidas a partir de algum texto de literatura infantil e infanto-juvenil; III – realização de oficina de produção de histórias em quadrinhos, em que as pessoas participantes são instadas a produzir as suas próprias histórias em quadrinhos, resgatando suas experiências, motivações, expectativas.
Notamos que os momentos de leitura das HQs foram apreciados pelo público, em sua maioria crianças de 4 a 11 anos, que frequentam creches e anos iniciais do ensino fundamental, cujo contato com a leitura é incipiente.
Nesse sentido, observamos que as histórias em quadrinhos mostram-se uma ferramenta importante para o desenvolvimento do hábito da leitura. Percebemos que o encantamento das imagens e os textos curtos proporcionaram aos sujeitos um momento prazeroso. A partir dessas observações esperamos que tais estímulos proporcionem novas situações de leitura, do texto e do mundo.

Referências

1. LOVETRO, José Alberto. A linguagem do futuro. São Paulo: Centro de Referência em Educação Mário Covas. Disponível em:<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/c_ideias_17_065_a_076.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2014.
 2. ROSAS, Judy M. G. Lá li gibi. João Pessoa: Pró-Reitoria de Extensão UFPB, 2014. (projeto de extensão).
3. ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 1987.



[1] Aurélio Muniz e Lucas Magalhães são alunos do curo de Letras/Português e Laís Morais é aluna do curso de Pedagogia. Todos estudantes da UFPB.

3 comentários:

  1. O desafio do problema do hábito de leitura é crônico porque se irradia no âmbito municipal, estadual, expressando um desafio de amplitude nacional. Na escola onde eu trabalho, aqui na UR7- Várzea - Re- PE, possuímos uma biblioteca, possamos dizer, com uma boa infraestrutura apesar de pequena, pois não comporta 30 alunos. Mas faltam funcionários que quando aparecem, são relocados com problemas de saúde etc., depois deslocados pra outros setores e isto torna nossa biblioteca inativa. É comprovado, com certeza, que o aluno leitor possui muito mais um nível de aprendizado satisfatório que repercute no conhecimento de todas as outras disciplinas, e muito mais nas disciplinas das humanas. Esse projeto Lá Li Gibi alinhado à Biblioteca Riacho do Navio é louvável e merece estar entre os melhores do Brasil. A linguagem como foi pensada pelo filósofo alemão Heidegger de que "a linguagem é a casa do ser" revela sua identidade com o pensamento manifestando, assim, o ser. Mas de um ponto de vista da semiótica, o ser humano é capaz de realizar leituras sem os signos linguísticos. A obra “A origem das línguas” de Rousseau, considero que no seu início, exista uma abordagem semiótica ao afirmar “ o amor foi inventor do desenho, pode também inventar a palavra". Também"... as figuras apresentam maior variedade do que os sons, mostrando-se também mais expressivas e dizendo mais em menos tempo" .
    Romana, professora do governo do Estado de Pernambuco da disciplina de Língua Portuguesa. Especialista em Educação e Mestra em Filosofia

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  2. Excelente comentário! Traz questões fundamentais à continuidade dos nossos estudos.

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  3. Excelente comentário! Traz questões fundamentais à continuidade dos nossos estudos.

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