DIA NACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO?
(Judy Rosas)
Maria viu a uva. Viu o boi. Viu a casa. Viu a faca. Viu o bote. Viu o menino. Viu a lata. Viu a mala. Viu a rua. Viu o ovo. Viu tudo e não enxergou a palavra. Não leu a palavra. Nem a letra.
Este é o caso de milhões de brasileiras e brasileiros para quem a palavra escrita, o texto escrito, não dizem nada. São estas as pessoas analfabetas.
O Dia Nacional da Alfabetização, instituído em 1966 em homenagem à criação, em 1930, do Ministério da Educação e Saúde Pública, que punha entre seus propósitos o fim do analfabetismo, antecede em um dia a data comemorativa da proclamação da república.
Em 15 de novembro de 1889, um país que ainda contava com muitos milhares de escravos declarou-se republicano, dando as costas para a situação em que se encontrava significativa parcela do povo brasileiro.
De acordo com o Censo Demográfico de 1900, existiam no Brasil 6.348.869 brasileiras e brasileiros com mais de 10 anos de idade que não sabiam ler e escrever. Número este que poderia ser muito maior não fosse a ausência de notificação censitária em amplas áreas rurais do país.
No Brasil de 2014 há mais do dobro de analfabetos absolutos que na virada do século XIX para o XX.
O motivo não é o crescimento da população. É, sim, o persistente afastamento das maiorias populacionais ao gozo do que é produzido no mundo da cultura, da política, da riqueza.
Comemorar este dia de hoje é não esquecer os atuais 13 milhões de analfabetas e analfabetos absolutos com 15 anos e mais. É não esquecer os mais de 47% do eleitorado brasileiro de 2014 que sequer concluiu o ensino fundamental, de acordo com informações fornecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral. É não esquecer que se mata mais negros pobres. É nunca esquecer que a concentração de renda no Brasil é tão brutal que, só em 2013, empurrou mais de 370 mil pessoas para a condição de miseráveis, segundo confirma pesquisa recém divulgada pelo IPEA.
Então, comemoramos o que no dia de hoje?
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