Autora:Judy Rosas.
Podemos propiciar a experiência de estímulo à leitura a partir das várias formas de histórias em quadrinhos (HQs), de modo que seja possível apontar que há alternativas de encontro entre o potencial leitor e o texto escrito, para além da sisudez dos romances, dramas e textos épicos assentados na tradição, que condiciona o ‘bom leitor’ ao gosto pelos clássicos da literatura.
Não que tais textos sejam anacrônicos e descontextualizados. Mas entendemos ser necessário incluir, para a formação do leitor iniciante, recursos outros. Desenhos e figuras também podem exprimir um texto e um contexto, assim como podem contribuir para a ampliação da compreensão do mundo que circunda o 'candidato' a leitor.
Hila (2009) observa que compreender “significa ter a capacidade de confrontar e entender as informações do texto somadas às informações trazidas pelo leitor para a produção de uma nova informação” (p.23). Devemos expor as pessoas que ainda não desenvolveram o hábito da leitura a um gênero textual que possa facilitar a síntese necessária à leitura significativa.
Sobre o surgimento das HQs, Carvalho (2006) afirma que estas alcançaram popularidade em todo o mundo através das ‘tiras’ de jornal, que eram publicadas para atingir o público adulto, apesar de haver suplementos infantis que já contemplavam este gênero textual. De acordo com o autor, elas se tornaram um hábito das pessoas que acompanhavam, com interesse, as aventuras dos personagens.
No ano de 1960, as tiras já eram lidas por aproximadamente 80% dos leitores de jornal. No Brasil, o marco de inserção das histórias em quadrinhos foi a Revista Tico-Tico, em 1905, que trazia ilustrações, poesias e passatempos.
As revistas que traziam exclusivamente histórias em quadrinhos aconteceram acidentalmente quando, nos Estados Unidos, em 1930, para manter as prensas em pleno funcionamento num jornal foram reunidas várias tirinhas que formaram o que, na época, foi denominado de comic book. Esta impressão vendeu um milhão de exemplares em apenas um dia, revelando um novo mercado de sucesso. No Brasil, o jornalista Adolfo Eisen, publicou, em 1939, a primeira revista em quadrinhos chamada O Mirim (CARVALHO, 2006).
Nos anos 1960 surgiu o Catecismo, cujo autor utilizava a alcunha de Carlos Zéfiro, revista em quadrinhos destinada ao público adulto que contava histórias eróticas. Maurício de Souza criou seus principais personagens entre 1959 e 1964. Em 1969 teve início a publicação do Pasquim, que também utilizou largamente o recurso das histórias em quadrinhos. Nos anos 1980 destacaram-se os traços de Laerte, Angeli e Glauco.
Carvalho (2006) afirma que a importância dos quadrinhos não se deve pelo fato de constituir um mercado milionário, mas porque “além de meio de comunicação de massa, entretenimento, arte, as HQs poder ser uma excelente ferramenta na sala de aula” (p.30).
Hoje os quadrinhos são muito usados. Porém, em 1928, a Associação Brasileira de Educadores (ABE) publicou um manifesto contra as HQs porque “incutiam hábitos estrangeiros nas crianças”. Posição esta ratificada numa reunião de bispos do Brasil, em 1939, que propuseram a sua censura.
Em 1944, o Instituto Nacional de Educação e Pesquisa (Inep) divulgou uma pesquisa que concluía serem as HQs responsáveis por provocar “lerdeza mental” nas crianças. O propósito desta pesquisa era desestimular nas crianças a leitura de quadrinhos, visto que estas preferiam as HQs à leitura de livros.
Hoje, os comics, nome dado a este gênero textual nos Estados Unidos, os mangás (Japão) e os gibis (Brasil) são lidos por crianças e adultos e representam, indubitavelmente, uma forma de uso da leitura amplamente difundida.
REFERÊNCIAS
• CARVALHO, DJota. A educação está no gibi. Campinas: Papirus, 2006.
• HILA, Cláudia Valéria Doná. Ressignificando a aula de leitura a partir dos gêneros textuais. In: NASCIMENTO, E.L. (Org.). Gêneros textuais: da didática das línguas aos objetos de ensino. 1.ed. São Carlos: Editora Claraluz, 2009.
segunda-feira, 24 de março de 2014
GIBI E FORMAÇÃO DO HÁBITO DA LEITURA: uma dupla muito dinâmica
16:40:00
2 Comentario
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As HQs são sem sombra de dúvida um estimulo primordial para a construção de um futuro leitor, ou seja, um amante verdadeiro da leitura independente do gênero preferido. Muito me entristece como futuro docente perceber que num país onde existe um enorme deficit leitores existir preconceito com aquilo que o outro lê, tal atitude não está limitada aos professores de escolas públicas, mas encontramos esse discuso atrofiado na própria Academia. Folgo em dizer que hoje sou um leitor formado pelas histórias em quadrinhos que li e que ainda leio com a mesma paixão e interesse com que leio desde uma obra de Stephen king a uma de Machado de Assis ou Raquel de Queiroz, sou um leitor por que amo a leitura por que a vejo sem preconceito. Parabéns pelo artigo e Parabéns pelo projeto da biblioteca que espero um dia conhecer. Sou estudante do sétimo período do curso de letras português da UFPB.
ResponderExcluirFicamos felizes com o teu comentário, Rodolfo. Concordamos que para formar leitores deveremos oferecer-lhes possibilidades de leitura, quaisquer que sejam os gêneros literários. Entendemos que a leitura de gibis é dinâmica e o recurso das ilustrações fornece outro tipo de leitura. Você leu os outros textos que postamos? Também são interessantes.
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