O acaso
nos trouxe, nos idos do ano de 2005, a possibilidade de possuir uma casa numa
linda e singela cidade do sertão alagoano, situada às margens do Rio São
Francisco, e que desde os anos finais da década de 1990 foi tombada pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio
paisagístico nacional.
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Fotografia: Ton Júnior |
Esta é
Piranhas, cidade que hoje conta, segundo dados censitários oficiais, com pouco
mais de 23 mil habitantes (IBGE, 2013).
Com o
passar dos anos, as pessoas do lugar nos encheram de curiosidade e, em pouco
tempo, descortinavam-se os paradoxos, os conflitos.
Assim,
nos embrenhamos em descobrir e compreender Piranhas a partir dos seus
indicadores sociais de qualidade de vida, de emprego, de educação.
Começamos
a entender concretamente o que as ruas e as pessoas em Piranhas há muito já nos
anunciavam: existia (e existe!) uma quantidade tão significativa de pessoas
analfabetas (crianças, jovens e adultas) que não nos deixava sossegadas.
Para nós,
o conhecimento nos compromete e impulsiona a agir de maneira a contribuirmos
com a superação das situações problemáticas com as quais nos deparamos.
Defendemos
que a formação intelectual deve estar entranhada em nossas práticas e ser
orientada por nossas concepções que são políticas, ideológicas e servem de
fundamento às nossas escolhas.
Escolhemos
nos juntar à maioria subescolarizada, não leitora, não escritora, ao
considerarmos que, muito mais dramático que a equivocada constatação de uma
situação de exclusão, existe uma real inclusão, cuja subalternidade se
expressa, por exemplo, através da pobreza e do analfabetismo.
Foi
assim, quando percebemos que a casinha passava a maior parte dos anos que se
seguiam fechada e sem utilidade, que decidimos, junto a alunos, alunas, amigas
e amigos de vida, transformar aquele espaço em uma biblioteca popular, hoje
registrada com o nome Biblioteca Popular Riacho do Navio.
Registrada
a biblioteca, realizamos campanha de doação de livros com a indicação de que
qualquer um teria utilidade.
Interessávamo-nos,
naquele momento, juntar obras que pudessem ser manuseadas, lidas, utilizadas
por qualquer pessoa que se aventurasse no mundo dos livros e da leitura.
Inicialmente
conduzimos cerca de 30 alunas e alunos dos cursos de Pedagogia e de Letras da
UFPB, numa atividade denominada “viagem exploratória”, na qual propúnhamos que
tais sujeitos conhecessem a cidade de Piranhas, com o intuito de juntos termos
ideias sobre a realização de atividades que contribuíssem com a melhoria dos
indicadores de educação deste município.
Nesta
viagem levamos cerca de 3.000 livros arrecadados numa campanha de doações: um
real ‘movimento’ de pessoas com diversos perfis ideológicos, religiosos,
educacionais, em torno do problema da leitura no Brasil.
Hoje, a Biblioteca
Popular riacho do Navio desenvolve ações tanto em Piranhas, como na cidade de
João Pessoa-PB, a partir do estabelecimento de parcerias com instituições
governamentais ligadas à educação.
A
oportunidade de realizarmos ações conjuntas, seja no estado da Paraíba como em
Alagoas, demonstra que uma biblioteca viva pode e deve extrapolar os seus
limites físicos, indo onde estão os sujeitos que tiveram acesso restrito ao
direito de conhecer, pela prática da leitura, o mundo que produzem e os
reproduz.
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