quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Histórico

O acaso nos trouxe, nos idos do ano de 2005, a possibilidade de possuir uma casa numa linda e singela cidade do sertão alagoano, situada às margens do Rio São Francisco, e que desde os anos finais da década de 1990 foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio paisagístico nacional.

Fotografia: Ton Júnior
Esta é Piranhas, cidade que hoje conta, segundo dados censitários oficiais, com pouco mais de 23 mil habitantes (IBGE, 2013).
Com o passar dos anos, as pessoas do lugar nos encheram de curiosidade e, em pouco tempo, descortinavam-se os paradoxos, os conflitos.
Assim, nos embrenhamos em descobrir e compreender Piranhas a partir dos seus indicadores sociais de qualidade de vida, de emprego, de educação.
Começamos a entender concretamente o que as ruas e as pessoas em Piranhas há muito já nos anunciavam: existia (e existe!) uma quantidade tão significativa de pessoas analfabetas (crianças, jovens e adultas) que não nos deixava sossegadas.
Para nós, o conhecimento nos compromete e impulsiona a agir de maneira a contribuirmos com a superação das situações problemáticas com as quais nos deparamos.
Defendemos que a formação intelectual deve estar entranhada em nossas práticas e ser orientada por nossas concepções que são políticas, ideológicas e servem de fundamento às nossas escolhas.
Escolhemos nos juntar à maioria subescolarizada, não leitora, não escritora, ao considerarmos que, muito mais dramático que a equivocada constatação de uma situação de exclusão, existe uma real inclusão, cuja subalternidade se expressa, por exemplo, através da pobreza e do analfabetismo.
Foi assim, quando percebemos que a casinha passava a maior parte dos anos que se seguiam fechada e sem utilidade, que decidimos, junto a alunos, alunas, amigas e amigos de vida, transformar aquele espaço em uma biblioteca popular, hoje registrada com o nome Biblioteca Popular Riacho do Navio.
Registrada a biblioteca, realizamos campanha de doação de livros com a indicação de que qualquer um teria utilidade.
Interessávamo-nos, naquele momento, juntar obras que pudessem ser manuseadas, lidas, utilizadas por qualquer pessoa que se aventurasse no mundo dos livros e da leitura.
Inicialmente conduzimos cerca de 30 alunas e alunos dos cursos de Pedagogia e de Letras da UFPB, numa atividade denominada “viagem exploratória”, na qual propúnhamos que tais sujeitos conhecessem a cidade de Piranhas, com o intuito de juntos termos ideias sobre a realização de atividades que contribuíssem com a melhoria dos indicadores de educação deste município.
Nesta viagem levamos cerca de 3.000 livros arrecadados numa campanha de doações: um real ‘movimento’ de pessoas com diversos perfis ideológicos, religiosos, educacionais, em torno do problema da leitura no Brasil.
Hoje, a Biblioteca Popular riacho do Navio desenvolve ações tanto em Piranhas, como na cidade de João Pessoa-PB, a partir do estabelecimento de parcerias com instituições governamentais ligadas à educação.

A oportunidade de realizarmos ações conjuntas, seja no estado da Paraíba como em Alagoas, demonstra que uma biblioteca viva pode e deve extrapolar os seus limites físicos, indo onde estão os sujeitos que tiveram acesso restrito ao direito de conhecer, pela prática da leitura, o mundo que produzem e os reproduz.

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